De acordo com a primeira análise científica global,
publicada na revista Biological Conservation, a população de insetos está no
caminho da extinção em todo o mundo, ameaçando um “colapso catastrófico dos
ecossistemas da natureza”.
Mais de 40% das espécies de insetos estão em declínio e um
terço está ameaçada. Segundo a revisão, a taxa de aniquilamento é oito vezes
mais rápida que a dos mamíferos, aves e répteis.
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Baseado nos melhores dados que temos disponíveis, a massa
total de insetos está caindo 2,5% ao ano, sugerindo que eles poderiam
desaparecer dentro de um século.
O planeta está no início da sexta extinção em massa, estando
já com enormes perdas de animais.
Os insetos são de longe os mais variados e abundantes
animais, superando a humanidade em 17 vezes. Eles são “fundamentais” para o equilíbrio
de todos os ecossistemas, servindo como alimento para outras criaturas, como
polinizadores e recicladores de nutrientes.
A tendência do declínio dos insetos está mudando profundamente
as formas de vida no nosso planeta. Uma das maiores consequências é comprovada
nos muitos pássaros, répteis, anfíbios e peixes que comem insetos. Se essa
fonte de alimento acaba, todos esses animais morrem de fome. Tais efeitos em
cascata já foram vistos em Porto Rico, onde um estudo recente revelou uma queda
de 98% nos insetos ao longo de 35 anos.
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“Se as perdas de
espécies de insetos não puderem ser interrompidas, isso terá consequências
catastróficas tanto para os ecossistemas do planeta como para a sobrevivência
da humanidade”, disse Francisco Sánchez-Bayo, da Universidade de Sydney, na
Austrália.
A maioria dos estudos analisados foi realizado na Europa
Ocidental e nos EUA, com alguns feitos da Austrália à China e do Brasil à
África do Sul.
A pesquisa selecionou os 73 melhores estudos feitos até hoje
para avaliar o declínio de insetos. Borboletas e mariposas estão entre os mais
atingidos. Por exemplo, o número de espécies de borboletas generalizadas
diminuiu 58% em terras cultivadas na Inglaterra entre 2000 e 2009. O Reino
Unido sofreu a maior queda de insetos em geral, embora isso seja provavelmente
um resultado de ser mais intensamente estudado do que a maioria dos lugares.
As abelhas também foram gravemente afetadas, havendo em 2013
apenas metade das espécies de abelhas encontradas em Oklahoma nos Estados
Unidos em relação a 1949. O número de colônias de abelhas nos EUA era de 6
milhões em 1947, mas perderam-se 3,5 milhões desde então.
Existem mais de 350.000 espécies de besouros e acredita-se
que muitos tenham diminuído, especialmente os escaravelhos. Mas também há pouquíssima
informação sobre muitas moscas, formigas, pulgões e grilos, por exemplo.
Especialistas dizem que não há razão para pensar que eles estão se saindo
melhor do que outras espécies estudadas.
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A análise afirma que a agricultura intensiva é o principal
motor dos declínios, particularmente o uso intensivo de pesticidas. A
urbanização e as mudanças climáticas também são fatores significativos.
O investigador crê que o desaparecimento de insetos parece
ter começado no alvorecer do século 20, acelerado durante os anos 1950 e 1960 e
atingido “proporções alarmantes” nas últimas duas décadas.
Ele acredita que novas classes de inseticidas introduzidos
nos últimos 20 anos, incluindo neonicotinóides e fipronil, foram
particularmente prejudiciais à medida que são usados rotineiramente e persistem
no ambiente, inclusive alcançando reservas naturais nas proximidades. 75% de
perdas de insetos registadas na Alemanha foram em áreas protegidas.
O mundo deve mudar a forma como produz alimentos, uma vez
que as fazendas orgânicas tinham mais insetos e que o uso ocasional de
pesticidas no passado não causou o nível de declínio observado nas últimas
décadas. “A agricultura intensiva em escala industrial é a que está matando os
ecossistemas”, argumenta Sánchez-Bayo.
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Nos trópicos, onde a ainda não há muita agricultura
industrial, acredita-se que o aumento das temperaturas devido às mudanças
climáticas seja o fator mais expressivo do declínio. As espécies são adaptadas
a condições muito estáveis e têm pouca capacidade de mudar, como foi observado
em Porto Rico.
Sánchez-Bayo afirma que a linguagem extraordinariamente
forte usada na revisão não é alarmista. “Queríamos realmente despertar o
problema nas pessoas. Quando se considera que 80% da biomassa de insetos
desapareceu em 25 a 30 anos, é uma grande preocupação”.
Outros cientistas concordam. “Deve ser uma grande
preocupação para todos nós, pois os insetos estão no centro de toda cadeia
alimentar, eles polinizam a grande maioria das espécies de plantas, mantêm o
solo saudável, reciclam nutrientes, controlam as pragas e muito mais. Gostemos
ou não, nós humanos não podemos sobreviver sem insetos”, disse o professor Dave
Goulson, da Universidade de Sussex, no Reino Unido.
Outros investigadores mencionam que a análise, apesar de
excelente, falha em incluir fatores que podem desempenhar um papel nesse
declínio, como poluição luminosa, superpopulação humana e o consumo excessivo,
bem como minimiza a influência da mudança climática.
A conclusão, entretanto, é uma só: “É cada vez mais óbvio
que a ecologia do planeta está se desmoronando e há uma necessidade de um
esforço intenso e global para deter e reverter essas tendências terríveis”,
resume Matt Shardlow, da instituição de caridade de conservação Buglife.
Fonte/TheGuardian