Quantas vezes já se questionou como os peixes conseguem
sobreviver a temperaturas abaixo de zero nas águas da Antártida? Provavelmente
nunca, mas os cientistas já. E agora têm a resposta, pelo menos para uma
espécie: a Chaenocephalus aceratus.
Photo Peté Bucktrout British Antartic Survey |
Ser estranho filmado no Oceano Antartico
Esse peixe-gelo da família Channichthyidae, nativo dos mares
antárticos, não possuem hemácias funcionais, normalmente responsáveis pelo transporte
de oxigênio pelo corpo, sendo os únicos vertebrados conhecidos com essa
característica.
Como vivem a temperaturas abaixo de 0 graus Celsius sem
hemoglobina, esses animais desenvolveram um coração enorme e um sistema
vascular melhorado, e produzem glicoproteínas anticongelantes para evitar o
congelamento.
Cientistas do Instituto de Pesquisa Polar da Coréia do Sul
analisaram o genoma do peixe para descobrir por que essas adaptações extremas
evoluíram.
O peixe-gelo, Notothenioidei, divergiu da linhagem que
desenvolveu a família Gasterosteidae há 77 milhões de anos. Usando o genoma
comparativo, os pesquisadores foram conseguiram quantificar as mudanças.
Quando a Antártica atingiu -1,9 graus Celsius, há cerca de
10 a 14 milhões de anos, os nototenóides diversificaram-se, desenvolvendo
adaptações para tolerar o frio.
Os resultados mostram que os genes envolvidos na proteção de
danos causados pelo gelo, incluindo genes que codificam as glicoproteínas
anticongelantes e a zona pelúcida [uma grossa camada glicoprotéica que envolve
o ovócito], expandiram-se no genoma do peixe-gelo.
Além dessas modificações, os genes que codificam enzimas que
ajudam a controlar o estado redox celular também aumentaram, provavelmente como
adaptações evolutivas à concentração relativamente alta de oxigênio dissolvido
em águas antárticas frias.,
Photo (uwekils/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0) |
Cientistas avisam que o oceano está ficando sem oxigênio
A análise também revelou que alguns dos genes reguladores
circadianos desapareceram no peixe-gelo. Isso ocorreu provavelmente porque o
ciclo dia-noite na Antártica, onde o sol nunca se põe no verão, nem nasce no
inverno, limita a utilidade da regulação circadiana.
As pressões de seleção para manter esses genes do ritmo
circadiano possivelmente diminuíram, uma vez que os peixes não os utilizavam,
permitindo que desaparecessem ao longo do tempo.
Não se sabe se o peixe-gelo realmente não tem esse
comportamento de ciclo de dia e noite. Os cientistas podem, por exemplo,
compará-lo com criaturas que vivem no abissopelágico, a zona do oceano onde a
luz do sol não consegue penetrar.
Qualquer descoberta sobre os enigmáticos peixes-gelo aumenta
nossa compreensão de como a vida pode se adaptar até mesmo aos ambientes mais
severos e inóspitos.
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