“A circulação de água
quente está a atacar a parte inferior destas plataformas de gelo nos pontos
mais vulneráveis”, disse a glaciologista Karen Alley, do College of
Wooster, em Ohio, num comunicado.
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As plataformas de gelo são uma extensão externa flutuante do
gelo terrestre que compõe as camadas continentais de gelo. No caso da
Antártica, cerca de três quartos do continente é cercado por plataformas de
gelo flutuantes, que agem como uma barreira natural para ajudar a impedir que
as geleiras nas camadas de gelo fluam para o oceano. Este efeito natural de
barreira só funciona, no entanto, se as próprias plataformas de gelo contiverem
massa gelada suficiente para sustentar o fluxo marítimo de gelo. Porém, estas
barreiras antárticas estão a enfraquecer.
Em 2016, uma equipa liderada por Alley analisou imagens de
satélite das plataformas de gelo da Antártica Ocidental e identificou os rios
invertidos de água morna que erodiam as plataformas por baixo, tornando-as mais
vulneráveis à desintegração. “As nossas
observações mostram que os canais basais estão associados ao desenvolvimento de
novas zonas de fissuras, sugerindo que estes canais podem causar fratura no
gelo”, explicaram os investigadores no artigo de 2016, publicado na revista
especializada Nature Geoscience.
“Concluímos que os canais
basais podem formar-se e crescer rapidamente como resultado da intrusão de água
quente no oceano, e que podem enfraquecer estruturalmente as plataformas de
gelo, potencialmente levando à rápida perda da plataforma de gelo em algumas
áreas”.
Num novo estudo, Alley e a sua equipa examinaram novamente
os canais basais para investigar o que produz estes rios misteriosos. Por
acaso, o processo começa na massa em terra da própria camada de gelo da
Antártica, e não na plataforma de gelo flutuante. À medida que o gelo flui para
o mar a partir da camada de gelo em terra, regiões fracas no gelo de fluxo
rápido chamado “margens de cisalhamento” podem formar-se nas bordas da massa.
No novo estudo, publicado na semana passada na revista
especializada Science Advances, os cientistas descobriram que os canais basais
eram mais propensos a formar-se ao longo das margens dos trechos de gelo enfraquecidos
e de fluxo rápido, uma consequência dos fluxos quentes de água flutuante que
subiam acima da água mais fria e induziam o derretimento nas secções mais
vulneráveis nas plataformas de gelo.
À medida que a fusão ocorre, um canal basal é esculpido na
parte inferior da frágil margem de cisalhamento, revelando o ponto mais fraco e
produzindo quebras nas plataformas de gelo.
“Estamos a ver um novo
processo, em que a água quente entra na plataforma por baixo”, disse o
glaciologista Ted Scambos, da Universidade do Colorado Boulder. “A calha torna a plataforma fraca e, em
poucas décadas, desaparece, libertando o manto de gelo para sair mais rápido no
oceano”.
“Isto pode importar um pouco ou pode importar muito”, disse Alley à
National Geographic. “Mas sabemos que
isto torna mais provável a perda de plataformas de gelo. Estes canais tornam os
pontos fracos mais fracos”.