Dois novos estudos demonstram que os acontecimentos de
arrefecimento e aquecimento climático antes da Era Industrial foram em muito
menos escala do que o fenômeno global que acontece atualmente. Os trabalhos
foram publicados nas revistas Nature e Nature Geoscience.
Os principais eventos de mudança climática registrados nos
dois últimos milênios foram a Pequena Era do Gelo (entre os séculos XIV e XIX,
no hemisfério norte) e o Período Quente Medieval (entre o século X e XIV, na
Europa). Mas são localizados e pontuais em comparação com o aquecimento que
estamos observando atualmente.
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Os objetivos climáticos do Acordo de Paris
Para chegar à esta conclusão, os investigadores estudaram
700 registos de temperaturas históricas, que incluem características de
árvores, sedimentos, corais, depósitos em cavernas e documentos feitos por pessoas
e registros de equipamentos, ficando assim com um retrato global das mudanças
climáticas deste a época dos romanos.
Para os que pensam que a Pequena Era do Gelo foi um evento
global, uma extensa análise publicada na revista Nature não encontrou nenhuma
evidência que confirme esta ideia. O que os pesquisadores encontraram foram
temperaturas baixas em locais e épocas diferentes, mas mesmo assim só atingiu
metade do planeta
Já no Período Quente Medieval, apenas 40% da superfície da
Terra atingiu temperaturas altas.
Assim, a variação atual se destaca desses outros eventos.
Este é o período mais quente dos últimos 2 mil anos, e acontece em 98% do
globo.
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Podemos estar a retroceder climaticamente 50 milhões de anos
Já o estudo publicado na revista Nature Geoscience examinou
as causas destes acontecimentos climáticos, e concluiu que o aquecimento e arrefecimento
pré-industrial aconteceram de forma primária por influência vulcânica.
As pesquisas das duas entidades concluem que esses eventos
antes da Revolução Industrial eram locais e curtos, sem produzir mudanças a
nível global. A mudança climática atual, porém, está acontecendo numa escala
muito maior e não pode ser explicado apenas por variáveis naturais.
As Nações Unidas acabam de publicar um relatório que alerta
para um “Apartheid Climático” conforme as mudanças climáticas se intensificam.
Philip Alston, especialista em pobreza extrema e direitos
humanos da ONU, explicou no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Génova que
milhões de pessoas vão passar por insegurança alimentar, migração forçada,
doença e morte neste século, devido a crises causadas pelas mudanças climáticas.
“Isso pode conduzir
mais de 120 milhões de pessoas para a pobreza até 2030. A mudança climática
ameaça desfazer os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, saúde
global e redução de pobreza”, diz ele.
Os maiores riscos são para as populações mais pobres dos
países em desenvolvimento. Essas nações nem sequer são as mais responsáveis
pela poluição por CO2, mas são as que vão sofrer mais.
“As pessoas em
situação de pobreza tendem a viver em áreas mais suscetíveis às mudanças
climáticas e em habitações menos resistentes. São elas que perdem relativamente
mais quando afetadas, e que têm menos recursos para mitigar os efeitos; e são
as que recebem menos apoio de redes de segurança social ou do sistema de
financiamento para prevenir ou se recuperar de catástrofes”, diz o
relatório da ONU.
Eles estão mais vulneráveis aos desastres naturais que
trazem doenças, destruição das plantações, alta de preço de alimentos, morte ou
incapacidade.
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As alterações climáticas poderiam tornar a Sibéria mais habitável?
Isso tudo ajuda a explicar porque apenas neste século atual,
pessoas de países mais pobres têm morrido em desastres numa taxa até sete vezes
mais alta que cidadãos de países ricos. Este fenômeno será exacerbado conforme
mais desastres naturais acontecerem.
“Arriscamos um‘apartheid climático’ em que os ricos pagam para escapar do aquecimento, fome econflito enquanto o resto do mundo é abandonado para sofrer”, alerta
Alston.
O relatório identifica falhas das lideranças dos governos e
do setor privado como fator principal por trás da falta de ação para diminuir a
velocidade a que as mudanças climáticas estão acontecendo.
A solução, explica Alston, é “fazer mudanças estruturais profundas na economia mundial”, adotando
uma economia sustentável, ao mesmo tempo em que se oferece uma rede de
segurança para trabalhadores que perderem seus trabalhos neste meio tempo.
O relatório admite que esses são desafios enormes, mas que
não há outra alternativa. “Algumas
pessoas e países ficaram incrivelmente ricas a custa de emissões sem pagar
pelos custos disso. Ações climáticas não devem ser vistas como um impedimento
de crescimento econômico, mas como uma motivação para dissociar o crescimento
econômico das emissões e extração de recursos”, diz Alston.
Fonte//Phys ScienceAlert