Há 50 milhões de anos, período conhecido como Eoceno, o
Ártico não era coberto de gelo como hoje. A Terra era cerca de 13ºC mais
quente, e a paisagem no extremo norte do planeta era sobretudo florestas
pantanosas repletas de crocodilos, semelhantes às encontradas hoje ao sul dos
EUA.
Alterações climáticas podem tornar os verões mais tempestuosos
Para tentar entender o que deixou o planeta tão quente no
passado, e o que pode acontecer com o clima no futuro, cientistas usam modelos
matemáticos que unem dados recolhidos e analises computadorizadas. Os resultados
desta projeção indica que a concentração de CO² na atmosfera teria que ser de 4
mil partes por milhão (ppm) para que a temperatura ficasse tão quente como no
passado. Isso é uma concentração muito alta de carbono. Para se ter uma ideia,
a concentração atual é de 410 ppm.
Ainda não se sabe exatamente o que causou as temperaturas
elevadas de há 50 milhões de anos, mas uma nova pesquisa publicada na Nature
Geoscience indica que a resposta pode estar nas nuvens.
Cerca de 20% dos oceanos subtropicais estão cobertos por uma
baixa e fina camada de nuvens, chamadas de estrato cúmulos. Estas nuvens
refletem a luz do sol para o espaço e arrefecem a Terra, sendo fundamentais para
regular o clima no planeta.
O problema é que os movimentos do ar que sustentam essas
nuvens são muito pequenos para serem calculados, e acabam ficando de fora das medições
climáticas globais.
Para contornar essa limitação, os investigadores criaram um
modelo em pequena escala de uma seção atmosférica representativa por cima de um
oceano subtropical, simulando em supercomputadores as nuvens e seus movimentos
turbulentos.
Nas projeções, quando a concentração de CO² excedia os 1.200
ppm, as nuvens desapareciam. Sem a cobertura delas, o calor do Sol, antes
refletido, era absorvido pela terra e pelo oceano, representando um aquecimento
local de 10ºC. Globalmente, a temperatura subiria 8ºC rapidamente, o que
significaria o fim da vida como conhecemos.
Depois das nuvens desapareceram, não voltaram a aparecer até
que os níveis de CO² baixaram para níveis substancialmente abaixo de quando a
primeira instabilidade ocorreu. De acordo com os cientistas, se a emissão de
carbono mantiver a tendência atual, chegaríamos à concentração catastrófica do
CO2 em meados do próximo século.
"Acredito e espero que as mudanças tecnológicas
desacelerem as emissões de carbono para que não alcancemos concentrações tão
altas de CO². Mas nossos resultados mostram que há limites perigosos de mudanças
climáticas dos quais não tínhamos conhecimento", disse o líder do estudo,
Tapio Schneider, professor de Ciências Ambientais e Engenharia da Caltech e investigador
do Jet Propulsion Laboratory, da NASA.
O investigador, no entanto, aponta para a necessidade de
novos estudos e ressalta que a concentração limite de 1.200 ppm na atmosfera é
apenas um número aproximado. As nuvens e a humanidade podem desaparecer com concentrações
menores ou maiores.
"Esta pesquisa aponta para um ponto cego nos modelos
climáticos", afirmou Schneider, líder atual do Climate Modeling Alliance
(CliMA). O consórcio usará ferramentas de assimilação de dados e simulações de
alta resolução num modelo que representa nuvens e outros recursos importantes,
mas com cálculos em menor escala e maior precisão do que os atuais.
Preocupante. Os oceanos estão a aquecer 40% mais rápido que era previsto
Fonte//Revista Galileu